terça-feira, 22 de junho de 2010

Carta Bomba "Apesar de você"

Por André Rizek


Não sei se os amigos já pararam para refletir sobre isso… A Seleção é o maior patrimônio do nosso povo, da nossa história. Mais significativa que as fronteiras do país, é Ela, a Seleção, a única coisa que realmente une e iguala o brasileiro descalço do interior do Amazônia ao milionário que mora em uma cobertura nos Jardins, em São Paulo. O brasileiro que batuca no Pelourinho ao que usa bombacha e toma chimarrão no Rio Grande Sul.
A Seleção representa o único momento em que todo brasileiro ao mesmo tempo estufa o peito na hora de lembrar onde nasceu.
Vencer, não se discute, é o que há de mais de importante a ser feito por Ela em uma Copa do Mundo. Prefiro mil vezes ganhar como em 1994 do que chorar como em 1982. Mas isso não quer dizer que ganhar seja a única coisa que realmente importa…
Dói no meu coração (desculpem a frase piegas, mas ela é autêntica) ver que o cartão de visitas (”Prazer, Brasil”) de um povo alegre e do bem foi tomado pela mensagem do ódio, da ignorância, do rancor.
Os amigos podem achar que escrevo isso apenas porque um colega de emissora (e grande amigo) foi ofendido pelo Dunga, gratuitamente, após a vitória de 3 x 1 contra a Costa do Marfim. Isso é o de menos. A imprensa não tem essa importância toda…
A questão ali não era o alvo da ofensa (chula). Era de onde ela partiu. Era ver o sujeito que leva no peito o emblema do futebol brasileiro fazer o que fez: palavrões, raiva e rancor em uma solenidade da Fifa. Com o mundo inteiro vendo. E viu o quê? Que Dunga é “homem” e quem não aceita o convite para bater boca com ele é “cagão”.
Mas isso é ainda menos grave do que a cena, lamentável, mostrada pelo Sportv depois do jogo: Dunga xingando o Drogba na beira do campo. Os jogadores das duas equipes se abraçaram. Dunga preferiu xingar o atacante que, diga-se de passagem, foi quem apartou as brigas dentro de campo…
Drogba é um astro da Copa do Mundo e como amantes do bom futebol que somos (somos, não é?), queremos ver gente como ele em campo. Devemos estender a mão a eles. Mas nosso técnico, que só consegue enxergar três pontos na frente do nariz, o vê como “inimigo”.
Dunga precisa de inimigo como a gente precisa de oxigênio. Se cair em uma ilha deserta, vai sobreviver xingando coqueiros… Isso é achar que o mundo gira em torno do próprio umbigo – ou contra o próprio umbigo, melhor dizendo.
Tem gente que não sabe perder. Dunga não sabe ganhar.
No ano passado, aqui mesmo na África do Sul, depois da estreia na Copa das Confederações, um jornalista egípcio disse ao nosso treinador que o povo de seu país era apaixonado pela Seleção Brasileira. Mas que, na vitória por 3 x 2 contra os egípcios, ele não haviam visto “o futebol-samba” do Brasil. Queria saber o motivo disso. Pergunta boa e simpática. Sabem como foi a resposta?
- Queria ver se a gente tivesse uma semana de descanso, como teve o Egito antes do jogo, se vocês iam gostar de ver o nosso futebol. Aí eu queria ver se vocês iam gostar!
Eu fiquei com vergonha… Porque a Seleção não é do Dunga, a Seleção não é do Jorginho. A Seleção não é nem do Pelé! Muito menos da imprensa. A Seleção é do Brasil. E o Brasil, representado ali pelo Dunga, estava dando uma patada… na inofensiva imprensa do Egito!
Este ano, por uma escolha (triste) da CBF, a Seleção foi ao Zimbábue fazer um amistoso. O Zimbábue é presidido por um ditador sanguinário, o Robert Mugabe. E o que faz o nosso “embaixador Dunga”? Quando voltou de lá, sem saber do que estava falando, resolveu fazer um elogio sobre o pouco que viu daquele país. Poderia ter se calado (não foi ele que marcou o jogo, afinal…). Mas prefere passar por ignorante do que perder a chance de cutucar “seus inimigos”. Assim já havia sido quando questionou se a ditadura e a escravidão haviam sido tão ruins assim. Não fez por convicção. Fez porque assim abriria mais um confronto.
Dunga se alimenta de confrontos.
Ele fez o que fez depois de passar pela Costa do Marfim na segunda rodada. O que fará se vencer a Argentina na final? Vai morder a jugular do Maradona? Vai subir na mesa na hora da entrevista promovida pela Fifa?
Por falar em Maradona. Um maluco está conseguindo promover o futebol argentino para o mundo com uma mensagem de alegria e bom-humor – afinal, o que é futebol? É para a a gente parar e pensar sobre isso…
Dunga faz um bom trabalho como treinador e isso é reconhecido por 90% dos jornalistas que eu leio, assisto, escuto. Pela qualidade dos nossos jogadores, mais uma vez temos boas chances de ganhar a Copa.
É o que há de mais importante a ser feito aqui.
Mas, definitivamente, não era a única coisa importante que o futebol brasileiro poderia fazer na primeira Copa disputada em território africano.