quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Mais de 138.000 internautas comentam não realização da 15ª Supercopa Paulo Afonso.

Fonte: www.lancenet.com

Por: Luciane Castro

Muito longe dos centros urbanos, do burburinho futebolístico e sob um sol que nunca brilha abaixo dos 30ºC, Paulo Afonso, situada no extremo norte baiano, recebe anualmente equipes do estado e de Alagoas, Sergipe e Pernambuco para a Super Copa Cachoeira de Paulo Afonso, competição de base que revela jogadores nordestinos para o Brasil e o mundo.

Este ano, porém, tudo saiu diferente do que acontece há 14 anos. Perto de sua 15ª edição, que começaria há quase duas semanas, a Copa foi cancelada na véspera da abertura devido a falta de alojamento para as delegações participantes nas escolas municipais. O argumento é de que as escolas estão em reforma, impossibilitando o acolhimento de pelo menos 300 pessoas entre atletas e comissão técnica. Resultado: com o cancelamento da competição, o prejuízo foi geral. Do organizador ao vendedor ambulante, a não realização gerou, além do prejuízo financeiro, uma frustração sem precedentes na história do torneio.

Pedro de Souza Neto, jornalista apresentador do Jornal Bonfinense e do Esporte Geral da TV Bonfim da cidade de Senhor do Bonfim, externou sua tristeza:

- A notícia do cancelamento da Super Copa foi recebida com muita tristeza por todos nós que cobrimos o evento há 12 anos. Remanejamos pessoal, uns entraram em férias e outros voltaram, já tínhamos até antecipado o pagamento de combustível para o transporte da equipe.

'Seu' Popó, 79 anos, vendedor ambulante que desde 1974 assumiu a cantina do Estádio Álvaro de Carvalho (antigo Ruberleno Oliveira) também se programou para atender o público comprando grande quantidade de produtos:

- Gastei e não terei retorno. Agora vou tentar passar adiante o que pode estragar mais rapidamente, como a salsicha do cachorro quente que faz um sucesso danado no estádio.

A delegação de Wenceslau Guimarães viajou 8 horas para chegar a Paulo Afonso. A equipe é formada por meninos da cidade e de cidades vizinhas, que conta com o apoio e a dedicação de Alexandro Leal, assessor do governo local diretamente envolvido com as questões esportivas, e sua esposa Janete Leal, pedagoga e que ajuda o marido nas viagens que ele realiza levando os garotos para disputar campeonatos.

A situação deste grupo em especial chamou a atenção, pelo fato da prefeitura de Wenceslau Guimarães projetar a verba de combustível para que fosse usada ao fim dos 10 dias de competição. Com o cancelamento e sem o alojamento, a delegação ficou "hospedada" num ginásio da cidade, sem condições de preparar a alimentação dos garotos e contendo gastos para aguardar a liberação da verba do combustível pela prefeitura de Wenceslau Guimarães.

Indignado com o tratamento recebido por parte de alguns funcionários do ginásio da prefeitura de Paulo Afonso, Alex se emocionou ao falar sobre o trabalho feito para que os meninos, em sua maioria carentes, consigam participar de competições de base e, com alguma sorte, serem observados e levados para grandes clubes. O goleiro Danrlei, de 16 anos, o volante Lázaro e o zagueiro Lantiel, ambos de 17 anos, eram o espelho da decepção:

- A gente vem se preparando há alguns meses pra esta competição. Tudo o que a gente queria era jogar bola e mostrar nosso talento. Mas chegamos aqui e nada vai acontecer. É muito triste", disse Danrlei.

Marcílio Menezes, recentemente contratado pelo Itabaiana (SE), é olheiro de categorias de base e levaria duas equipes para a disputa da Super Copa. Arrecadou alimentos para os atletas e chegou a nos mostrar a quantidade de comida estocada para a viagem. Além do trabalho feito com muita dedicação, Marcílio, ou Zagalo, como é conhecido por sua semelhança com o ex-técnico da seleção, pensa da alimentação dos meninos ao uniforme. Num rápido passeio por Aracaju, rodamos por diversos locais da capital sergipana para que Zagalo arrecadasse o dinheiro dos pequenos comerciantes que ajudariam com as despesas da viagem, e passamos pela casa de alguns garotos para os últimos ajustes antes da partida para Paulo Afonso.

Ao conversar com diversas pessoas que lamentaram o cancelamento da Super Copa, fica claro que há os que acreditam numa retaliação de ordem puramente política, já que Beto da Liga, organizador do evento, não aprova algumas atitudes dos atuais comandantes da política esportiva da cidade. Beto explica que enviou um primeiro ofício para a Secretaria de Educação solicitando a liberação das escolas, aproveitando o período de férias, em agosto de 2011.

Beto diz ter sido informado que o ofício não chegou às mãos da secretária Selma Carvalho. Enviou o segundo ofício em novembro, devidamente protocolado e com ciente dado pela Secretaria e que lhe foi informado que as coisas estavam caminhando dentro do prazo. Na última semana, mais exatamente dois dias antes do início dos jogos, veio a notícia de que por conta da reclamação de algumas diretoras por depredação dos prédios, este ano não seria possível conceder as escolas para abrigar as delegações.

Para Beto da Liga, muito maior que o prejuízo financeiro, que gira em torno dos R$ 15mil, é o prejuízo moral, já que as chances de ter seu nome desacreditado na condução do evento são grandes. No entanto, ele já visualiza a possibilidade de levar a competição para outra cidade, com o argumento de que não tem mais condições de fazer solicitação alguma à prefeitura, que se encarrega exclusivamente de conceder o estádio e as escolas. Todo o resto é de sua responsabilidade.

Conversamos com o Secretário de Esportes de Paulo Afonso, Janio José Ferreira, que salientou a falta de um "plano B" para a Super Copa, caso algo de errado acontecesse:

- De fato houve ruído na comunicação. O ofício enviado por Beto em agosto do ano passado, perdeu-se de alguma maneira. Outro foi enviado, mas temos recebido muitas reclamações das diretoras das escolas por conta da depredação de alguns itens dos prédios. Nós sabemos como a gurizada se comporta, é coisa da idade. A prefeitura sempre apoiou a Super Copa, que nos traz muitas coisas boas, tanto para os comerciantes locais, quanto para o turismo, e por dar uma enorme visibilidade para a cidade. Infelizmente desta vez, Beto não se programou para uma emergência. A secretaria deixou bem claro que as escolas estavam em reforma e em período de matrículas. Além do que, deixou para cobrar e reforçar a liberação das escolas muito em cima da hora.

Beto rebate dizendo que ao entregar o primeiro ofício em agosto e o outro em novembro, era tempo suficiente para uma negativa por parte da Secretaria de Educação, mas ao responderem dois dias antes do início da competição, é fato suficientemente claro para denotar a intenção de queimar a competição que debutaria este ano.

O fato é que a única vítima do que parece ser uma questão puramente política é o jovem nordestino que tem na Super Copa a chance real de mostrar seu futebol e, quiçá, conseguir uma forma de ganhar a vida de modo digno.

A Super Copa Cachoeira de Paulo Afonso revelou jogadores como Wellington, meia-atacante que atuou pelo Corinthians e que disputou o Mundial Sub-17 com a seleção. Também surgiram nela o lateral Vitor, que foi para o Goiás e depois para o Palmeiras. Marcinho, que hoje atua pelo Apoel do Chipre. Diego Costa, que está no Atletico de Madrid. Zé Soares que saiu da Super Copa para o União São João de Araras, posteriormente para o Palmeiras e hoje joga no Metalurh Donetsk, da Ucrânia. O Vitória conta com Dauan e Pedro Victor. O Gremio tem Gustavo, e Fabio Gama atua no Bahia.