quarta-feira, 7 de julho de 2010

Perpetuação no Poder.

Lula: renovação na CBF sim; interferência do Estado não
Após eliminação na Copa, presidente sugere renovação no comando da entidade

Ricardo Teixeira tem mandato até 2015 (Crédito: Pedro Kirilos)

Leo Burlá RIO DE JANEIRO Entre em contato
Ricardo Teixeira, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), levantou a bola. Ao ver a chance de concluir a jogada, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, arrematou em cheio. Depois da entrevista do cartola, na qual pediu renovação no grupo de jogadores brasileiros, tendo em vista o Mundial de 2014, Lula também discursou a favor da mudança... na entidade presidida por Teixeira.
Confira o raio x do poder pelo Brasil
Nesta terça-feira, na África do Sul, Lula defendeu que o mandato na CBF tenha duração de até oito anos. Teixeira está no poder desde 1989.
- No sindicato dos metalúrgicos nós fazíamos assim - sugeriu.
O presidente, contudo, evitou falar sobre interferência do estado em questões da entidade. Segundo Roger Leal Stiefelmann, professor de direito constitucional da Universidade de São Paulo (USP), para uma participação efetiva, o estado teria que respeitar a autonomia da entidade que rege nosso futebol.
Recentemente, a Fifa condenou a tentativa de ingerência dos governos francês e nigeriano sobre as confederações nacionais.
Muitas vezes, a pouca alternância no comando da CBF e de suas afiliadas tem origem nos estatutos. Em boa parte dos casos, há limitações para uma maior democratização do processo sucessório.
- O desejável seria uma ampliação do colégio eleitoral, que desse a oportunidade de votos aos clubes, árbitros, jogadores, ou seja, todas os envolvidos - defendeu Roger.
A renovação também esbarra na Lei Pelé. No documento, que institui normas gerais sobre o desporto, não há nada que impeça que o quadro de perpetuação prossiga.
O continuísmo, é bom que se diga, não é um privilégio brasileiro. Francisco Novelletto, presidente da Federação Gaúcha (FGF), aponta a Fifa como exemplo:
- É como uma repetição de um modelo que começa de cima até embaixo. Quantos anos o (João) Havelange (ex-presidente da Fifa) ficou no poder? E o Blatter?
"O que não é proibido é permitido"
Ednaldo Rodrigues, presidente da Federação Baiana de Futebol (FBF), justificou com a frase acima a perpetuação de muitos de seus colegas no comando de Federações.
De fato, Rodrigues, presidente da FBF desde o ano de 2001, tem razão ao evocar o princípio de direito.
Sem regulamentação por parte da Lei Pelé e do estado, o presidente da Federação Matogrossense, Carlos Orione, por exemplo, está no comando da entidade desde 1976, um recorde entre os mandatários. Para definir a situação, Rodrigues deu uma escorregada:
- Quanto menos o futebol local avançar e os times não tiverem representatividade, mais difícil será que apareçam candidatos nos pleitos. Sou a favor da mudança, mas bons trabalhos ganham simpatia.
Francisco Novelletto, da Federação Gaúcha, também credita alguns casos de continuísmo nas entidades aos êxitos obtidos em determinadas administrações.