sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

O futebol banhado pelo Velho Chico

Lu Castro - Lancenet.

O curso do Velho Chico
Saí do Recife na madrugada do sábado para descarrregar as malas e a curiosidade na cidade de Paulo Afonso, extremo norte da Bahia. A região é conhecida por sua beleza e por propiciar aos loucos por adrenalina, um dos melhores picos para a prática de esportes radicais. Mesmo com a natureza privilegiada e com tanta coisa para ver, era natural que a curiosidade em torno do futebol local fosse maior até mesmo que o calor e a mania “Rebolation” que toca pela cidade inteira . Antes de enveredar pelos caminhos do futebol pauloafonsino, convém dar uma pincelada em alguns aspectos da cidade que cresceu graças ao bom e Velho Chico.

A beleza do Velho Chico e a Usina de Paulo Afonso
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Em 1945, o governo federal aprovou a criação da Companhia Hidrelétrica do São Francisco – CHESF, para geração de energia aproveitando o enorme potencial do Rio São Francisco. Com a injeção de recursos na economia local e os benefícios gerados pela produção de energia elétrica na Bacia do São Francisco, a região se desenvolveu e ainda ganhou novas cidades, a exemplo de Paulo Afonso.

Cânion do São Francisco a partir do catamarã. Passeio obrigatório!
A CHESF era proprietária de toda a área da cidade, mas aos poucos foi se desfazendo de alguns imóveis por já ter concluído algumas de suas operações até o seu produto final: a geração de energia elétrica. Foi numa dessas propriedades da CHESF que encontrei o primeiro personagem da matéria que poderia me dizer algo sobre o futebol local. Caminhei pouco mais de 200 metros do ponto onde me hospedei até chegar ao Centro de Formação Profissional de Paulo Afonso, uma estrutura espetacular em meio à natureza, com amplos galpões e um modelo reduzido de gerador de energia elétrica. Me informaram que num dos galpões eu encontraria Nilson Brandão, o cara que há 30 anos acompanha o futebol local e que desde 98 trabalha na Rádio Bahia Nordeste. Em 1978, Nilson foi o cara que montou a Rádio Cultura Am e FM e deu início a sua peregrinação através futebol da cidade.

Nilson Brandão, o homem que adora contar a história do futebol pauloafonsino.
Encontrei Nilson na Ilha de Edição de um dos galpões e quando pedi a ele para me contar a história do futebol pauloafonsino ele logo me respondeu: “Mas tu quer saber o que exatamente?”. Claro que minha vontade era passar horas escutando as histórias do futebol de Paulo Afonso, mas o tempo era curto e a hora do almoço se aproximava. Nilson foi enfático, mas me presenteou com algumas pérolas e me deixou com esperança:
” São 50 anos de história! Não consigo lhe contar em meia hora. Mas olhe, tenho aqui toda a história do futebol neste cd, pode levar e copiar. Só me devolva porque uma aluna levou meu material impresso embora e desapareceu. Sim, quero patrocínio para este livro, mas não consigo ninguém. E também não tenho ninguém com quem dividir isto. Ainda tem os causos! Poxa vida, quantos causos não acompanhei nestes 30 anos de comentarista. Tem um episódio muito interessante num jogo do BTN. Diziam que o juíz Melopréia – olha o apelido do elemento!, andava com um punhal guardado dentro do meião. E numa determinada partida, o jogador que foi amarelado falou umas poucas e boas pro juizão, mas teve que sair correndo porque o homem não gostou muito do que ouviu e foi logo sacando do punhal. Pense! O futebol pauloafonsino toda vida foi amador, mas já tivemos grandes pelejas por aqui.”
Foi nesse ritmo que a conversa se desenvolveu com Nilson e com tempo apertado e uma série de informações para buscar, perguntei logo onde era o estádio e como foi que o futebol ganhou força por aqui. Naquele ritmo e sotaque inconfundíveis e deliciosos de ouvir, Nilson contou: “O que hoje chamamos de Estádio Municipal, recebeu o nome de Engenheiro Ruberleno Oliveira em homenagem ao homem que construiu o espaço e faleceu assim que ficou pronto em Agosto de 1976. Inclusive, a partida inaugural foi entre Sport x Náutico, onde o rubronegro venceu por 2 a 0. O “Estádio da Chesf”, assim chamado por muitos, passou duas décadas áureas: a de 50 e a de 60. Ressalta-se neste período o empenho e determinação do então funcionário da empresa que aqui chegou, Álvaro de Carvalho, carioca, flamenguista, rubro-negro apaixonado, que fumava charuto, um exemplo de desportista nato a quem o futebol de Paulo Afonso muito tem para agradecer. Aqui, tínhamos uma senhora seleção, formada por um bom número de funcionários da Chesf, a maioria deles motoristas, vigilantes e alguns trabalhadores que ocupavam função administrativa nos escritórios. Em 1999, CHESF transferiu o estádio para a prefeitura e desde então passou a se chamar Estádio Municipal.”

Engº Ruberleno Oliveira, Alvaro de Carvalho e agora Estádio Municipal. Poucos jogos acontecem no palco futebolístico de Paulo Afonso
“O futebol de Paulo Afonso morreu, minha filha. Mas olhe, procure um cara chamado Pedro Roberto, no Bar Katedral, em frente a Farmácia de Peu. Este cara organiza um campeonato aqui em Paulo Afonso, revela jogadores e ainda organizou um campeonato de futebol feminino. Procure por ele e não esqueça de devolver meu cd!” Concluiu Nilson com o ar mais tranquilo do mundo. Saí do CFP Paulo Afonso feliz, com um milhão de coisas na cabeça e com o fim único de saber: “Por onde anda o futebol de Paulo Afonso?”.
Encontrei um pouco da história do futebol em Paulo Afonso através de poucas fotos expostas no Memorial da CHESF e até encontrar com Beto, do Bar Katedral, muito andei pela cidade. O que eu vi, postarei para vocês em breve, afinal, a história do futebol de uma cidade não se conta em apenas um post. Até lá!
Publicado por Lu Castro dia 12/02/2010 às 8:52 em NacionalSaiba mais sobre , , , , Rio São Francisco